Expectativa de vida pós-pandemia
A expectativa de vida da população na Europa Oriental reduziu entre quatro e três anos
A pandemia de Covid-19 é o evento com maior impacto negativo sobre a expectativa de vida desde a Segunda Guerra Mundial, fazendo com que ela diminuísse entre quatro e três anos em países da Europa Oriental. Os dados vêm de uma análise comparativa de 29 países (quase todos europeus, com exceção dos Estados Unidos e do Chile) publicada recentemente em uma edição do periódico Nature Human Behaviour.
O trabalho, coordenado por Jonas Schöley, do Instituto Max Planck de Pesquisas Demográficas, em Rostock (Alemanha), mostrou ainda que, embora as nações mais ricas da Europa Ocidental tenham começado a se recuperar do impacto inicial da pandemia já em 2021, o mesmo não aconteceu no leste do continente e no caso da população americana.
Segundo o levantamento, o único país da amostra a não apresentar uma redução líquida na expectativa de vida no intervalo entre 2019 e 2021 foi a Noruega. Quando o intervalo entre 2020 e 2021 é considerado, 16 das 29 nações mantiveram a mesma tendência negativa, enquanto as demais começaram a reverter a tendência – curiosamente, com exceção da Noruega, que registrou uma ligeira queda nesse indicador em 2021.
No estudo, a redução na expectativa de vida foi quantificada em meses. Os dados mais impressionantes para a totalidade do intervalo pandêmico até agora (com exceção do ano de 2022) vêm de países como a Bulgária, a Eslováquia e a Polônia, no Leste Europeu. Os moradores desses países sofreram reduções de, respectivamente, 43 meses, 33,1 meses e 26,6 meses em sua expectativa de vida.
A situação, porém, é quase tão assustadora no caso da população dos EUA, cuja expectativa de vida caiu 28,2 meses entre 2019 e 2021. Na Europa Ocidental, o pior retrocesso foi na Escócia (redução de 9,6 meses), enquanto no Chile, único país latino-americano da amostra, a queda na expectativa de vida foi de 21,1 meses, comparável à de países da Europa Oriental e Central.
De acordo com Schöley e seus colegas, o impacto do vírus pandêmico nas nações do Leste Europeu é similar à crise do fim do bloco soviético entre o fim dos anos 1980 e o começo dos anos 1990, quando o colapso econômico e a perda da infraestrutura da região afetaram severamente a saúde pública. A trajetória demográfica desses países tem seguido uma inflexão menos favorável que a da Europa Ocidental desde os anos 1960, quando as décadas de avanços na expectativa de vida promovidas pela maior atenção à saúde pública dos governos socialistas acabaram estagnado.
A pesquisa identificou também fatores que estão facilitando a melhora do indicador após as piores ondas da pandemia e os que estão associados a uma maior redução da expectativa de vida.
Do lado negativo, ser do sexo masculino está associado a maiores perdas na expectativa de vida em 16 dos 29 países analisados. Nesses lugares, a diferença entre homens e mulheres nesse quesito – quase universalmente favorável às mulheres – ficou ainda mais ampla com a Covid-19. Os EUA foi o país em que esse abismo mais se ampliou, passando de 5,72 anos a mais de expectativa de vida entre as mulheres para uma diferença de 6,69 anos em favor delas.
Vacinação
Do lado positivo, os países nos quais a vacinação contra a doença avançou de forma mais robusta também tendem a ser os que se recuperaram com mais facilidade até o final de 2021. Conforme o esperado, a maior parte da redução na expectativa de vida corresponde ao grande aumento da mortalidade de pessoas com 60 anos ou mais em quase todos os países.
No entanto, nos EUA, os números de 2021 também foram afetados de forma significativa pela maior mortalidade de adultos abaixo dos 60 anos. Os autores do estudo especulam que isso pode estar associado à adesão relativamente baixa das pessoas dessa faixa etária à vacinação nos EUA, quando comparada à presença maciça dos idosos americanos nos postos de imunização.
Os dados gerais sugerem que, mesmo com a melhora de 2021, a Covid-19 continuou sendo a principal responsável pela queda de expectativa de vida em nível internacional. Considerando o período que vem desde o início do século 20, apenas a gripe espanhola de 1918-20 teve um impacto claramente superior ao da atual pandemia num intervalo similar de tempo.
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