Desigualdades à vista
Países menos privilegiados lideram apenas 8% dos ensaios clínicos em oncologia
O aumento da participação de países com renda média baixa e média alta em ensaios clínicos randomizados (ECR) liderados por nações ricas é um fenômeno mundial. Com a intenção de mapear os países participantes, os benefícios dessa presença para a população envolvida e o seu impacto na pesquisa global, cientistas de nove países, incluindo o Brasil, analisaram 636 estudos publicados entre 2014 e 2017. O trabalho foi publicado na revista JAMA Network Open.
O levantamento mostrou que a Rússia e o Brasil têm a maior presença entre os países de renda média alta (ou UMICs, do inglês Upper-Middle Income Countries), com taxas de participação de 64% e 52%, respectivamente, nos estudos feitos durante o período. Quanto aos países de renda baixa média (LMICs, de Low-Middle Income Countries), a maior frequência coube à Índia (50%), Ucrânia (46%) e Filipinas (27%). Um dado que chama a atenção nesse levantamento é que apenas 8% dos ensaios revisados foram liderados por países não privilegiados, sendo a China (72%) e a e Índia (10%) responsáveis pela maioria desses estudos.
Os pesquisadores também compararam a inscrição dos UMICs e LMICs com a produção global de pesquisas oncológicas, incluindo todos os tipos de estudos (ciência básica, pesquisa clínica e pesquisa do sistema de saúde). O levantamento sugere que a super expressão dos países menos favorecidos nos ensaios clínicos é desproporcional à produção bibliométrica total de pesquisas em câncer. A Ucrânia, por exemplo, inscrita em 46% dos ensaios randomizados, está presente em 2% da produção de pesquisa global sobre o câncer. Isso vale para a Rússia (64% vs. 2% de produção), Romênia (34% vs. 2% de produção) e México (31% vs. 2% de produção), entre outros.
No caso dos brasileiros, com população incluída em 52% dos estudos no período, a participação nas publicações globais é de 7%. Associação inversa foi observada para a China (31% nos ensaios clínicos, 69% de produção científica).
Para os autores, a participação em estudos clínicos também não correspondeu à carga nacional da doença. Políticas públicas, argumentam, são necessárias para que os ensaios randomizados se revertam em maior capacidade de pesquisa clínica em oncologia nesses países.
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