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12.06.2023 Relacionamento

Genética do amor

Cada vez mais estudos mostram como o afeto e a ligação entre parceiros são influenciados por genes

Imagem criada por IA (programa MidJourney)

Talvez em um futuro próximo, aplicativos de relacionamentos irão incorporar a genética das pessoas. Além de cozinhar, saber usar a crase e ter uma barba bem cuidada, homens poderão colocar em seus perfis que contam com versões “boas” de alguns genes. 

Cada vez mais artigos estão sendo publicados mostrando como o afeto e a ligação entre parceiros são influenciados por genes. Por exemplo, roedores da espécie Microtus ochrogaster são umas das poucas espécies monogâmicas de mamíferos. Estudos sugerem que a quantidade de receptores para os neurotransmissores ocitocina e vasopressina induzida pelo pareamento é suficiente para deixá-los “felizes” numa relação mongâmica. Já seus primos da parte fofoqueira da família, Microtus montanus, que possuem menos destes receptores, são extremamente promíscuos. E o mais interessante é que, se cientistas fornecerem ocitocina e vasopressina para esses primos, eles passam a ser monogâmicos. 

Coisas similares foram observadas para outro mamífero: o ser humano. Homens com um alelo 334 de um gene que regula vasopressina (AVPR1A) têm mais crises no casamento (e suas esposas reportam ser mais infelizes) do que homens sem essa versão do gene. Outro gene relacionado à serotonina, 5-HTTLPR, também vem em duas versões no nosso genoma, uma longa e outra curta. 

Pessoas com duas versões curtas (aquela que receberam uma versão do pai e outra da mãe, logo não dá pra culpar ninguém) são as que sofrem mais em um relacionamento que está ruim, mas se divertem mais e são mais apaixonadas em um que está dando certo. São as chamadas montanhas-russas emocionais. Já pessoas com duas versões longas deste gene tendem a ser os que não ligam pelos altos e baixos de um casamento. 

Finalmente, indivíduos com o genótipo GG da variante rs53576 do gene que codifica o receptor da ocitocina apresentam mais empatia e tendem a estar em relacionamentos mais felizes. 

Obviamente não somos roedores e não podemos culpar o determinismo genético para terminar um relacionamento.  Porém, não podemos negar que parte da felicidade de um casal pode ser, sim, influenciada por seus genes.

Aceite. Você pode fazer yoga a dois, ler livros de autoajuda, viajar em cruzeiros no carnaval, ouvir aquela tia que entende de relacionamentos, mas ainda não conseguirá mudar os genes que herdou. 

Com o barateamento de tecnologias genômicas, a cada dia será mais fácil descobrir quais versões de genes você e seu parceiro têm. Aí frases como “eles preferem as loiras, mas casam-se com as morenas” podem ser reconfiguradas para comentários do tipo: “elas preferem versões curtas, mas se casam com versões longas”. 


Helder Nakaya é imunologista e pesquisador sênior do Einstein.

* É permitida a republicação das reportagens e artigos em meios digitais de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND.
O texto não deve ser editado e a autoria deve ser atribuída, incluindo a fonte (Science Arena).

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