Quando o fator de impacto não importa tanto
Número médio de citações não é critério mais importante para embasar diretrizes médicas na Alemanha, sugere estudo
Como definir os estudos mais adequados para guiar a prática dos médicos? Para a Associação das Sociedades Científicas Médicas (AWMF), que define as diretrizes para diagnóstico, prevenção e tratamentos na Alemanha, não é o fator de impacto das revistas que os publicaram, mas sim o quão utilizável é o resultado da pesquisa.
Em um estudo publicado na revista Scientometrics, pesquisadores da Universidade de Göttingen, na Alemanha, mostram que as duas revistas com artigos mais citados nas 70 diretrizes médicas analisadas, dos anos de 2017 e 2018, têm fator de impacto muito menor do que as publicações consideradas de alto impacto.
A definição do fator de impacto se dá pela divisão do número de citações que a publicação recebeu pelo número de artigos publicados nos dois anos anteriores. Se a revista publicou 100 artigos e teve 100 citações, por exemplo, seu fator de impacto é 1.
Segundo o estudo, menos de 10% das citações se referiam a artigos científicos publicados nos dois anos anteriores à publicação da diretriz e mais de metade das referências havia sido publicada há pelo menos oito anos. O resultado sugere que o ciclo de dois anos implícito no cálculo do fator de impacto para que um estudo continue relevante não se aplica à prática clínica.
A segunda revista mais citada nas diretrizes, por exemplo, é apenas a 40ª em fator de impacto entre as 100 mais citadas. Essa centena de publicações representa 57,95% das citações nesses documentos que devem nortear a prática médica na Alemanha.
As publicações abaixo da 11ª posição representam cada uma menos de 1% do total de citações, enquanto as que estão abaixo das 100 mais citadas contam como apenas 0,192% do total citado.
“Quando vistas as diretrizes como um todo, há apenas uma fraca correlação entre os números de citações de revistas específicas e o fator de impacto delas […]. As referências nas diretrizes priorizam mais a utilidade do estudo que o fator de impacto”, escrevem os autores.
Como exemplo, eles citam a Cochrane Database of Systematic Reviews, que tem um fator de impacto moderado, de 6,754. No entanto, teve 811 citações, a segunda posição. Do outro lado do espectro, o CA-A Cancer Journal for Clinicians tem um alto fator de impacto (244,585) mas é citado nos documentos apenas 18 vezes, não figurando sequer entre as 100 revistas mais citadas.
“Isso sugere que os autores das diretrizes buscam através de centenas de diferentes fontes, independentemente do seu fator de impacto, a fim de suprir suas necessidades”, atestam os pesquisadores.
Para os autores, a própria citação em diretrizes médicas deveria pesar na avaliação de um artigo científico, além de incentivar a realização de mais pesquisas utilizáveis na prática médica.
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