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Para ampliar colaborações

Participar de congressos no exterior e aproveitar bate-papo do “cafezinho” podem resultar em parcerias promissoras

Participar de congressos internacionais ajuda a identificar possíveis parceiros fora do Brasil | Crédito: Fábio H. Mendes / E6 Imagens

Pode parecer óbvio, mas não tem como fugir. Quando o assunto é internacionalização da pesquisa feita no Brasil, existe uma série de processos atrelados a ele que só podem dar certo se uma espécie de “receita de bolo” for seguida. Antes mesmo de reunir os ingredientes, o que se precisa ter em mente – de acordo com pesquisadores que avançaram bastante nessa seara em suas carreiras – é o propósito de investir na expansão dos horizontes geográficos. 

Por mais que trabalhar em conjunto com grupos estrangeiros abra portas para a pesquisa feita em território nacional, os cientistas que estão do lado de lá também precisam ganhar – sob pena de o naufrágio acadêmico e profissional ser iminente. “Parcerias internacionais só funcionam bem quando os dois parceiros se beneficiam da parceria”, afirma o epidemiologista Carlos Augusto Monteiro, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP).

Para isso, diz o pesquisador, é preciso que os dois grupos que pretendem trabalhar juntos tenham interesses e linhas de pesquisa semelhantes e que não haja grandes assimetrias entre o grupo com menor qualificação (acadêmica, de produtividade ou em reconhecimento na linha de pesquisa) e o grupo com maior qualificação. 

Na visão de Monteiro, os grupos precisam realmente se equivaler. “Isso significa que, se o grupo 1 tem qualificação média-baixa, ele deve buscar colaboração com um grupo de média ou média-alta qualificação, e não um grupo com qualificação alta ou muito alta.”

Se o objetivo é realmente estreitar laços com pares locados em outros países, vários caminhos podem ser seguidos a fim de iniciar parcerias promissoras, afirma o biomédico Marcelo Mori, do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (IB-Unicamp). “Um deles é marcar presença em congressos internacionais”, aconselha. “Isso inclui não apenas eventos realizados no exterior, mas também no Brasil, especialmente aqueles que conseguem atrair um bom número de cientistas estrangeiros.”

Mori reconhece que barreiras financeiras muitas vezes limitam o acesso de pesquisadores brasileiros a eventos fora do Brasil, por conta dos gastos com passagens e hospedagem. Esse, aliás, é um obstáculo que precisa ser enfrentado com muito planejamento, ainda mais em momentos de corte de recursos para a pesquisa no Brasil. “Apesar das dificuldades, cada cientistas deveria se programar para viajar a congressos internacionais pelo menos uma vez por ano. Isso deveria ser uma regra.”

Grupos que pretendem trabalhar juntos precisam ter interesses e linhas de pesquisa semelhantes e que não haja grandes assimetrias entre eles

Por mais que os encontros científicos on-line ou híbridos tenham vindo para ficar, a partir do surgimento da pandemia de Covid-19, o formato tem limitações, observa Mori. “A participação a distância ajuda o pesquisador a se manter a par dos debates internacionais, mas não é suficiente para estimular novas colaborações.” 

Isso porque, para o pesquisador da Unicamp, nas reuniões remotas não há tanta possibilidade para aquelas interações presenciais que normalmente acontecem nos intervalos de apresentações, entre um coffee break e outro – e que são potencialmente promissoras para futuras colaborações. “Nessas ocasiões, o tempo não é tão restrito e as conversas ocorrem de modo mais natural e informal.” 

Para Monteiro, um dos maiores desafios no campo da internacionalização é convencer todos os grupos de pesquisa brasileiros de que a ciência não tem fronteiras. “Pesquisadores que não dialogam com seus pares mais qualificados no exterior podem ficar condenados à falta de relevância acadêmica no contexto global”, argumenta o professor da USP. 

Quebrar a barreira do preconceito estrangeiro, que muitas vezes ocorre por uma falta de conhecimento do que se faz no Brasil, também é um obstáculo importante a ser vencido, analisa Mori. “O isolamento geográfico acaba dificultando trazer pessoas para cá. Estamos longe dos grandes centros científicos”, diz Mori. “Minha impressão é que toda a vez que um pesquisador vem para o Brasil, ele geralmente gosta e deseja voltar. As pessoas se interessam por vários aspectos do país e reconhecem que, por trás daquele preconceito velado, a ciência brasileira é excelente em várias áreas e oferece muitas oportunidades de colaboração.” 

Um dos problemas que dificultam a atração de cérebros para o Brasil, salienta Mori, é a falta de infraestrutura de pesquisa nas universidades públicas. Isso inclui não só a parte de recursos laboratoriais, mas também disponibilização de pessoal capacitado a interagir com gente do exterior. “A barreira da língua é uma realidade. É fundamental que as instituições de pesquisa ofereçam mais disciplinas em inglês para ampliar a participação de alunos estrangeiros em cursos de pós-graduação”, diz Mori.  

* É permitida a republicação das reportagens e artigos em meios digitais de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND.
O texto não deve ser editado e a autoria deve ser atribuída, incluindo a fonte (Science Arena).

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